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Ditaduras não são eternas (João Baptista Herkenhoff)

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28/11/2015 06h35

Ditaduras não são eternas

Nunca imaginam que, num futuro próximo ou distante, o silêncio será rompido.

João Baptista Herkenhoff

Os
ditadores sempre supõem que seu poder é eterno. Nunca imaginam que, num futuro
próximo ou distante, o silêncio será rompido, o véu que encobre os crimes será
levantado, as indignidades serão conhecidas.

Esta
ilusão de que o arbítrio é perene, a tortura permanecerá encapuçada, encoraja
os que pisoteiam a dignidade humana a praticar com desfaçatez os mais abjetos
atos.

Entretanto,
cedo ou tarde, a verdade vem a ser conhecida.

Não
se revela a sujeira, que ficou debaixo do tapete, com espírito de vingança. Um
povo deve conhecer sua História, não apenas os atos heroicos, mas também os
episódios que envergonham. A revelação dos erros do passado é uma advertência
para que não se repitam.

Esta
é a razão que justifica a edição do livro ”Ditaduras não são eternas: memórias da resistência ao Golpe de 64, no
Espírito Santo.”

Trata-se da contextualização
e compilação dos depoimentos prestados por presos políticos à Comissão Especial
da Assembléia Legislativa do Espírito Santo, referentes ao período de 1961 a 1979.
Merecem parabéns os responsáveis pelo resgate, em livro, da palavra dos
massacrados.

A
iniciativa de pegar em armas para derrubar a ditadura instaurada no país em
1964 não foi a única forma de resistência. Dom Hélder Câmara não aderiu a essa
forma de luta. Entretanto, poucos brasileiros terão, como este Bispo santo,
atuado com tanta eficácia para minar o regime de força e esvaziá-lo até o
esgotamento.

Também
no Espírito Santo houve ações e comportamentos desarmados, de oposição ao
macabro 1964 / 1968.

As
comunidades eclesiais de base, que mostravam que o Evangelho de Jesus Cristo
carrega, nas suas linhas, um projeto libertador, não eram vistas com bons olhos
pelos aparelhos de repressão.

Dom
João Baptista da Motta e Albuquerque teve seus passos vigiados, era espionado e
recebeu ameaças anônimas, por telefone, até mesmo durante a noite. Naquele
tempo não havia recursos técnicos que permitiam a identificação dos aparelhos
telefônicos de onde se originavam ameaças, palavras para menosprezar e outros
abusos. Dom João Baptista teve a coragem de abrigar proscritos em sua casa, sem
a garantia da inviolabilidade que protege as embaixadas. Padres, freiras e
leigos atuantes foram incluídos na lista dos suspeitos.

O
registro desta faceta do “não à ditadura” não foi abordado por “Ditaduras não
são eternas” e nem deveria mesmo fazer parte destas memórias. Estas cumpriram,
com lucidez, metodologia científica e grandeza, o objetivo colimado.

João
Baptista Herkenhoff é magistrado aposentado (ES), professor, palestrante e
escritor.

E-mail: [email protected]

Site: www.palestrantededireito.com.br

Ditaduras não são eternas (João Baptista Herkenhoff)

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