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Lassidão das Forças Repressivas (Bruno Peron Loureiro)

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17/04/2014 08h00

Lassidão das Forças Repressivas

Em nosso país, os conflitos internos tendem a persistir devido à falta de grandes projetos.

Bruno Peron Loureiro

O aumento da violência no Brasil, ao contrário do que muitos gestores públicos pensam, não se deve à falta de repressão ou até mesmo de presença das forças armadas e policiais onde elas não estão. Há um aspecto mais importante de que o Estado tem descuidado: o país tem pelejas eleitorais calorosas (e inflamadas pelos meios de comunicação), mas carece de um projeto concordante para transformações culturais e sociais duradouras.

Enquanto o Estado não cuida de nossos jovens porque tem o rabo preso com as elites (nacionais e estrangeiras) em direção às quais nosso dinheiro flui, grande parte de nossos meio-cidadãos e semi-profissionais formam-se para disputar o que lhes cabe num cenário cada vez mais competitivo. Entrementes, os discursos oficiais fumam o alucinógeno das campanhas economicistas a favor de crescimento econômico, recorde de exportações e “Brasil emergente”, mas deixam a bagana para os agitadores de protestos de rua.

Estes (os que agitam e participam dos protestos) não perdem seu entusiasmo para causar barulho, embora as forças policiais tenham sido acusadas de agir com truculência contra tais atos coletivos. Devido a confrontos incontidos, estas forças repressivas criaram perfis inimigos (marginais que se infiltram em manifestações pacíficas, grupos mascarados, jovens que fazem “rolezinhos” em shopping centers). Mas não farei agora uma análise minuciosa da violência em protestos porque há encadeamentos educacionais, institucionais e de patrimônio público que mereceriam tratamento especial.

Chamo atenção aqui para a desorientação e o esgotamento que as medidas repressivas alcançaram no Brasil. Isto ocorre a ponto de que os protestos têm-se tornado frequentes (por aumento de salários, contra a Copa, etc.) e de que surgem “justiceiros” que supostamente cobrem lacunas de segurança do Estado ao fazer “justiça com as próprias mãos”. Vimos o caso do garoto de periferia que foi acorrentado despido numa praia famosa do Rio de Janeiro por ter cometido um delito aos olhos de “justiceiros”.

Nesta mesma cidade, as forças policiais tentam reduzir a delinquência (tráfico de drogas, roubo de veículos) em favelas através do envio de tropas policiais (ostensivas, mas muitas vezes para fins preventivos) e de Unidades de Polícia Pacificadora (UPP). Recentemente estas forças de segurança pública (junto do Exército e da Marinha) ocuparam o Complexo da Maré, que é um conjunto de favelas na região Norte do Rio de Janeiro.

Neste ínterim, leio na imprensa que o governador do Piauí solicitou forças federais para conter o aumento da violência em seu estado. Sem falar do colapso do sistema prisional no Maranhão. E assim uma força tem gerado outra em vez de provocar a tão esperada redução ou anulação do uso da violência. No entanto, a falta de projetos para arrumar a casa, como indiquei no início deste texto, não parece preocupar aos tomadores de decisão, que por vezes cumprem jornadas de trabalho mas não sua função pública.

Quando falo de esgotamento das forças de repressão, não deixo de mencionar opiniões divergentes da minha. Apesar das diferenças de atuação entre as forças policiais que citei e as forças armadas (Aeronáutica, Exército e Marinha) no Brasil, muitos acreditam que o problema está na insuficiência dos investimentos. Assim, nosso Ministro da Defesa lamentou que o Brasil dedique 1,5% (que em 2013 totalizou R$ 18,3 bilhões) de seu Produto Interno Bruto à defesa nacional enquanto a média mundial é de 2,6%.

Em nosso país, os conflitos internos tendem a persistir devido à falta de grandes projetos que o transformem construtivamente e aos interesses discrepantes que às vezes se equilibram, mas outras vezes se hostilizam e dão no que vimos nas cidades brasileiras em meados de 2013. Entre dar munição e oferecer estímulos educativos, a segunda opção é mais digna de um país com sede de mudança. Enquanto se esgotam as forças repressivas, persiste nosso desejo de ver o Brasil resplandecer, mas não somente nos estádios.

Para isso, leitor, você sempre contribuirá com algum desejo precioso.

Seu papel como cidadão fará a diferença até mesmo longe das urnas.

Bruno Peron Loureiro é mestre em Estudos Latino-americanos pela FFyL/UNAM (Universidad Nacional Autónoma de México)

Contato: [email protected]

Bruno Peron Loureiro

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