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Pai de segunda mão (Luiz Carlos Amorim)

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05/08/2015 06h18

Pai de segunda mão

Mas é a vida, a saudade traz as pessoas queridas para mais perto da gente, os corações dos pais está onde os filhos estão.

Luiz Carlos Amorim

O dia dos pais está chegando de novo e a minha filharada está longe, longe, e não é facil fazer a travessia com frequencia. Mas é a vida, a saudade traz as pessoas queridas para mais perto da gente, os corações dos pais está onde os filhos estão. No próximo ano eu vou lá e mesmo que não seja dia dos pais, será como se fosse.

As filhas se foram, a casa ficou enorme, cheia de saudade. Xuxu, a nossa Pinscher que quase completou vinte anos de idade também se foi e a casa ficou maior ainda, mas felizmente um barulho de criança permanceceu, para preencher um pedacinho do dia, um pouco da nossa vida. Falo de Gabriel, o sobrinho que agora tem onze anos, mas desde pequeno passou a tarde aqui conosco. A mãe dele trabalha o dia todo, então depois da escola, ele vem ficar conosco até que a mãe venha apanhá-lo no final da tarde, à noitinha.

Ele não é filho, mas é como se fosse. É ele que nos faz companhia, que faz com que sejamos pais postiços, uma relembrança do tempo em que nossas meninas eram pequenas, depois jovens e preenchiam a casa e a nossa vida. É um filho meio que emprestado, que veio num tempo em que precisávamos muito de alguém assim.

O pai de Gabriel não é presente, então o cara chato que está sempre no pé dele, é o tio, e quem faz tudo para ele, é a tia: faz a comida, ajuda nos deveres, leva para a aula de inglês, de robótica, para a natação…

Mas apesar de chato, antiquado, de cobrar muito e de ficar martelando as coisas no ouvido dele, é este tio também que brinca, que faz de conta que tem a idade dele, que tenta ser um pouquinho criança para fazer companhia a ele como ele faz companhia a nós, os tios que vão ficando velhos e solitários.

Então neste dia dos pais quero agradecer muito ao Gabriel, por estar conosco. Sei que ele não escolheu, mas a vida faz acontecer algumas coisas na hora e no lugar certos. Meu tempo mais feliz, meu e da tia dele, foi aquele depois da chegada das filhas. Não troco aquele tempo por nada. Mas elas cresceram e, adultas, foram viver a própria vida, como deve ser. E Gabriel veio para nos lembrarmos todos os dias de como foi bom o tempo com nossas crianças, ele trouxe de novo para dentro de nossa casa um pouquinho daquele tempo.

Ele faz aumentar a saudade? Faz sim, mas a saudade é que mantém nossas filhas cada vez mais juntinho da gente, é a saudade que conserva nossa filharada cada vez mais dentro dos nossos corações, inquilinas vitalícias com espaço cada vez maior.

Obrigado, Gabriel. Você está crescendo, a juventude está chegando e logo você também vai seguir o seu caminho, mas este tempo que encheu nossa casa e nossa vida de infância vale tudo. Eu sempre disse que casa sem criança não é lar, mas um dia vou ter que me acostumar com isso. E a casa vai ficar tão maior, tão maior…

Luiz Carlos Amorim, Escritor, Coordenador do Grupo Literário A ILHA em SC, com 30 anos de atividades e editor das Edições A ILHA, que publicam as revistas Suplemento LIterário A ILHA e Mirandum (Confraria de Quintana), além de mais de 50 livros.

Contato: [email protected] – http://luizcarlosamorim.blogspot.com

Luiz Carlos Amorim

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