26.8 C
Campo Grande

Quem chora pelo menino sírio Aylan Kurdi? (Carlos Eduardo Rios do Amaral)

- Publicidade -

04/09/2015 06h35

Quem chora pelo menino sírio Aylan Kurdi?

A imagem se tornou uma das mais representativas da dramática crise migratória na Europa

Carlos Eduardo Rios do Amaral

O mundo amanheceu chocado com a
imagem do pequeno menino sírio Aylan Kurdi, de três anos, encontrado morto em
uma praia da Turquia. A imagem se tornou uma das mais representativas da dramática
crise migratória na Europa, ocasionada pelos conflitos armados no Oriente
Médio, principalmente na Síria.

Nilüfer Demir, a fotógrafa que
registrou as imagens do corpo de Aylan na praia da Turquia, disse: “a única
coisa que eu poderia fazer era tornar seu clamor ouvido. Naquele momento, eu
pensei que poderia fazer isso ao acionar minha câmera e fazer sua foto”. E foi
o que aconteceu. O mundo voltou-se para o pequeno Aylan Kurdi.

A cada instante que as ondas da
praia tocavam a face do menino Aylan, firmada na areia, era como se o mundo
fosse castigado pela sua omissão, condenado por sua iniquidade. A imagem parece
muito bem resumir o quanto distante estamos do respeito e da preservação da
dignidade da pessoa humana.

A imagem do pequeno menino sírio
conduz a Organização das Nações Unidas, seu Conselho de Segurança e sua
comunidade de Países, inclusive as grandes potências mundiais, para o período
paleolítico, para um mundo inferior nos subterrâneos da Terra de que nos fala a
mitologia grega.

A desigualdade social e às
injustiças do sistema que dominam o mundo triunfam. Em 5.400 anos de história
da humanidade, desde a invenção da escrita, ainda não aprendemos a viver no
planeta, não aprendemos a amar e conviver em fraternidade com o nosso semelhante.
Tudo que sabemos fazer até o presente é acumular riquezas e bens materiais,
consumindo todos os recursos naturais da Terra, sempre deixando para trás um rastro
de poluição e destruição generalizadas.

O pequeno Aylan Kurdi nos fez ter
a sincera e última impressão de que tratados e convenções internacionais não passam
de um nada, que as fronteiras entre as Nações são meras trincheiras
delimitadoras de territórios de um pequeno grupo de senhores que entendem que são
os donos do planeta. Afinal, Aylan não poderia estar na Síria, sua terra natal,
nem na Turquia, nem na Europa, nem em lugar algum. Nos termos do acordado pelos
poucos senhores do planeta, o pequeno Aylan Kurdi deveria mesmo é estar morto.

E sem dar um segundo sequer de
chance à paz no mundo caminha a humanidade. Embalada para nossa destruição
final. Quem diria, mas que ironia, a forma de vida dominante no planeta ser a
autora de seu próprio apocalipse e de todas as outras espécies.

Nos encontraremos, pobre Aylan
Kurdi. Tenho certeza que, onde estiver, está em paz, irradiando e contaminando os
bons e justos com sua alegria própria de uma pequena e inocente criança.

Carlos Eduardo Rios do Amaral é
Defensor Público da Infância e da Juventude no Estado do Espírito Santo

Carlos Eduardo Rios do Amaral

Leia também

- Publicidade -

Últimas Notícias

- Publicidade -
- Publicidade-