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Campo Grande

Profissionais de saúde denunciam agressões diárias na Rede Pública

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23/03/2017 06h58

‘Poder Púbico precisa dar uma resposta e isso passa pela Câmara de Vereadores que é uma fiscalizadora do Executivo’

A violência sofrida por profissionais de saúde nas Unidades de Saúde de Campo Grande e estratégias para coibir as agressões físicas, psicológicas e verbais foram debatidas por autoridades, usuários e profissionais da área, durante Audiência Pública realizada na Câmara Municipal na manhã dessa quarta-feira (22).

Para o secretário municipal de segurança pública, Valério Azambuja, “o Poder Púbico precisa dar uma resposta e isso passa pela Câmara de Vereadores que é uma fiscalizadora do Executivo. Estamos fazendo uma reengenharia, a partir de 1 de abril, criando uma nova escala para os guardas municipais nos postos. Hoje temos de 4 a 5 tipos de escala, são mais de 500 pontos para ser atendidos. Já começamos esse processo em todas unidades de saúde. Nas unidades 24 horas, que são pontos críticos, teremos dois guardas. Em cinco meses registramos 13 ocorrências, onde foram lavrados boletins junto à delegacia,sei que isso representa apenas 10% do que ocorre na realidade. Estamos reorganizando a guarda civil municipal, que sozinha não é a solução. Lamentamos a questão de saúde pública ser tratada como questão de segurança pública”, disse.

De acordo com Angelo Evaldo Macedo, vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Enfermagem da Prefeitura de Campo Grade, “essa Audiência é uma iniciativa de suma importância para estabelecer de forma segura um protocolo que possa trazer segurança para que todo profissional de saúde possa exercer seu trabalho de uma forma segura, sem se sentir ameaçado, sem se sentir oprimido. Existe várias formas de violência, e o profissional de enfermagem é vitima de quase todas elas, em sua maioria. A maior delas, que tem proporção gigantesca é a violência física. Precisamos de um olhar atento, buscando protocolos para nos salvaguardar. O Sindicato vem registrando semanalmente agressões sofridas por nossos profissionais de enfermagem. Pedimos que haja uma segurança eficiente para o profissional que trabalha em saúde”, afirmou.

O proponente da Audiência, vereador Fritz apresentou dados alarmantes sobre a questão. “Hoje na saúde municipal temos registrado uma agressão física semanal, pelo menos uma agressão verbal diária no serviço de atendimento. 70% das agressões registradas oficialmente são de mulheres, há um número menor de homens agredidos”, salientou.

A vice-presidente do Conselho Regional de Enfermagem, Cacilda Rocha Hildebrand relatou que “a violência está tão comum que a gente sofre e não se preocupa nem em notificar e comunicar a polícia. Hoje cerca de 50% de todos os profissionais de saúde são da enfermagem e a maior parte da enfermagem é composta de mulheres, que estão na linha de frente do atendimento. Dados de Mato Grosso do Sul, numa pesquisa de cobertura de enfermagem no Brasil, revela que apenas 26% dos profissionais de enfermagem diz se sentir num ambiente seguro de trabalho, outros 25% relatam ter sofrido violência no ambiente de trabalho. Desses 25%, 66% sofreram violência psicológica, 16% violência institucional e outros 16% violência física”, revelou.

O técnico em enfermagem, Alexsander Melo Alves testemunhou ter sido vítima de agressão no último dia 26 de fevereiro no UPA Universitário durante o plantão noturno. “Fui vítima de agressão física e verbal, sofri ferimentos nos ombros e braços, lesionou meu ombro esquerdo, estou fazendo fisioterapia ainda, um mês depois. Estamos muito vulneráveis correndo risco de morte. Na unidade só tem um guarda municipal para atender um fluxo muito grande de pessoas. Por período são cerca de 200 pacientes”, denunciou.

Em seu pronunciamento, a presidente do SIOMS (Sindicato dos Odontologistas de Mato Grosso do Sul), Marta Brandão disse que “alguma coisa está errada, porque todos os profissionais de saúde estão sofrendo agressões, independente de quem são. Um cirurgião dentista também tem esses problemas. Essa é uma situação preocupante para todas as categorias dentro da área da saúde. A segurança é importantíssima para o profissional desenvolver seu trabalho com tranquilidade, focando na saúde do paciente. Se toda população não tiver qualidade de vida, segurança, nós também não teremos. Temos muitos profissionais de licença por conta de agressões, esse prejuízo vem aos cofres públicos, porque eles estão afastados sem condições de retornar ao trabalho, quem está perdendo somos nós”, avaliou.

Segundo o diretor do Sindicato dos Médicos de Mato Grosso do Sul, Renato Figueiredo “já tive camisa rasgada durante um plantão. Hoje a violência na área de saúde é uma epidemia mundial, não acontece apenas nas unidades de saúde de Campo Grande. No Brasil é algo diferenciado, mas é subestimado. Há violência verbal, tumultos, profissionais trancados em banheiros, quando entra gangue e bandido lá dentro. Na UPA Coronel Antonio e Universitário, que têm maior fluxo, onde existe maior atendimento, há a necessidade e a urgência de que o assunto seja tratado de maneira correta, com muito respeito, de forma combativa. A saúde está doente, o profissional de saúde está doente, sofrendo agressões, sem condições mínimas de trabalho, mal remunerado, precisamos de respeito aos profissionais, em todos os aspectos”, disse.

Conforme o secretário municipal de saúde, Marcelo Vilela, “conheço a realidade não é de hoje. Campo Grande escolheu estruturar primeiro a urgência e emergência, e não deu estrutura à base. A saúde da família representa hoje 37% em Campo Grande, tem capitais que é 60%. Peguei uma secretaria totalmente desorganizada. A população pede remédio, atendimento médico, exames. Vivemos uma calamidade com a falta de remédios, médicos pedindo demissão, isso leva tempo. Uma proposta que vinha sendo implantada, porque saúde é planejada, em 4 anos foi tudo destruído. Estou aqui como um desafio, sou um cirurgião que gosta de desafio. A estruturação das UPAs já está sendo licitado, serão qualificados conforme o Ministério da Saúde exige. A partir de hoje a Sesau vai publicar o nome e o horário de todos os funcionários de plantão nas unidades de saúde. Urgência e emergência não é uma política de saúde pública, temos que estruturar a base, que é mal discutida. Isso é reflexo de uma crise nacional, da falta de dinheiro do governo, o governo federal não assume a saúde”, disse.

O Delegado Rodrigo Vasconcelos Braga, coordenador das delegacias de pronto atendimento comunitário (Depac) afirmou que “é interesse de todos que se faça um reforço na presença de guardas municipais. Entendo necessário a apresentação do boletim da guarda municipal à polícia civil para registro da ocorrência, para que se faça a abertura de uma persecução penal para que o processo se desencadeie de forma mais segura para o ofendido. Vamos buscar que os policiais continuem sendo cada vez mais enérgicos nas fianças quando cabíveis para que a pessoa permaneça presa e haja ressarcimento ao erário público em caso de dano ao bem público. Vamos dar prioridade nesses tipos de ocorrência, nos colocamos à disposição para coibir essa situação que é uma questão social, mas também é uma questão de segurança pública”, se comprometeu.

A Audiência contou com a presença dos vereadores Dr. Wilson Sami, Fritz, Enfermeira Cida Amaral, Valdir Gomes, André Salineiro, Pastor Jeremias Flores, Dharleng Campos, Chiquinho Telles.

Paulline Carrilho – Assessoria de Imprensa da Câmara Municipal

Izaias Medeiros

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