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Desemprego amplia busca pelo microcrédito

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24/06/2016 23h30

A expectativa, segundo alguns bancos, é que a modalidade continue crescendo a taxas próximas de 10% neste ano

Na contramão do mercado de financiamento bancário como um todo, o microcrédito avança em ritmo acelerado em alguns bancos, embora nem sempre pelos motivos mais animadores. Diante de um universo de mais de 11,4 milhões de desempregados, o empreendedorismo tem sido a fórmula usada por muita gente para driblar o ambiente de recessão econômica e de poucas oportunidades – casos em que o microcrédito tem sido fundamental.

A expectativa, segundo alguns bancos, é que a modalidade continue crescendo a taxas próximas de 10% neste ano, bem acima, portanto, da expansão média do saldo das operações de crédito do sistema com um todo, de 3% nos 12 meses até abril. O ambiente, contudo, é encarado com um misto de oportunidade e cautela tanto para os bancos quanto para os clientes. Ou “as” clientes, já que a maioria dos tomadores desse tipo de crédito é formada por mulheres.

“Em momentos de crise, o empreendedorismo de necessidade fala muito alto e deve continuar tendo importância na estrutura de geração de renda”, diz o superintendente de microcrédito do Santander, Jerônimo Ramos. “Há pouco tempo escutei de um empreendedor de Paraisópolis [comunidade em São Paulo], quando questionado como vai a crise: ‘não trabalho com esse produto’”, conta o executivo.

No Santander, as concessões cresceram 5,5% no primeiro quadrimestre do ano e podem encerrar 2016 em linha com o avanço registrado nos últimos anos, de 8% a 10% ao ano. Segundo Ramos, o volume de clientes cresceu 43,7% em abril se comparado a igual mês do ano passado, totalizando 140 mil empreendedores ativos.

A carteira do banco tem R$ 298 milhões. Desde 2002 foram concedidos R$ 3,4 bilhões em microcrédito. O tíquete médio do empréstimo é de cerca de R$ 3 mil, com prazo médio de 6 meses e taxa média de 2,5% ao mês.

No microcrédito, cerca de 70% dos clientes são mulheres e o Nordeste registra um ritmo de crescimento mais rápido do que o restante do país. A taxa de desocupação na região também é maior do que a média (de 11,2%), chegando a 12,8%, a maior entre as cinco regiões. “A tendência é de mais pessoas na informalidade”, diz Stélio Gama Lyra Júnior, superintendente de microfinanças e agricultura familiar do Banco do Nordeste (BNB).

O BNB, que tem o maior programa de microcrédito do Brasil, de R$ 2,8 bilhões, somou 58 mil novos clientes à carteira apenas entre dezembro e maio deste ano, para um total de 2,1 milhões de clientes ativos. A estimativa, diz Lyra Júnior, é de um crescimento da carteira de 10% em 2016.

Segundo Lyra Júnior, o banco tem registrado uma procura inicial maior pelo microcrédito nesse cenário recessivo, mas tem sido bastante seletivo nas concessões. Já o empreendedor que é cliente do banco, diz, tem tentado reduzir um pouco o tíquete médio do empréstimo (hoje em R$ 1,3 mil), justamente pelas dificuldades impostas pela economia. “Eles não tiram o dinheiro todo, tiram um pouco menos para não se endividar muito. Quem já está na atividade está mais cauteloso”.

No Nordeste, a maior desigualdade social e econômica e uma capilaridade menor de instituições financeiras tem impulsionado o microcrédito. A região responde por 52,1% da carteira total de microcrédito, segundo o Banco Central. Ramos, do Santander, diz que havia um movimento maior de acesso ao mercado de trabalho dos filhos de empreendedores no Nordeste, mas que, com a crise, essa geração mais nova tem se voltado ao empreendedorismo. No Santander, a taxa média de crescimento das concessões é de 5,5%, mas o Nordeste cresce de 6,5% a 7%, enquanto o Sudeste, 4,5%.

No microcrédito, a garantia funciona na base da solidariedade: um grupo de empreendedores respondem um pelo outro. Em alta, a inadimplência média do microcrédito para microempreendedores chegou a 7,35% em abril, em comparação aos 2,25% registrados no início da série, em abril de 2011, segundo o BC.

No BNB, a inadimplência era de 1% até 2014 e está hoje em 1,66%. “Achamos que, no segundo semestre, com festas e férias, baixamos para 1,3%”, diz Lyra Júnior. No Santander, em atrasos acima de 90 dias, a inadimplência está em torno de 3%.

Nem todos os bancos passam por um momento de maior visibilidade desse tipo de crédito. No Banco do Brasil, a linha tem registrado estabilidade no ano, com cerca de 1,7 mil operações por dia. Para Lauro Gonzalez, coordenador do centro de estudos de microfinanças da FGV, é possível que nos bancos públicos de maior porte o desempenho da carteira de microcrédito seja menos expressivo porque os subsídios federais a essas linhas foram praticamente cortados e essas instituições podem ter sofrido mais com a inadimplência.

Nesse sentido, a longa curva de aprendizado de alguns bancos no segmento, ressalta Gonzalez, é crucial para o desenvolvimento da carteira. No total, o microcrédito reúne R$ 5,3 bilhões, ou 0,2% do volume do sistema, e alta de apenas 0,3% em 12 meses.

Segundo Gonzalez, a modalidade desempenha papel contracíclico e, em momentos de crise, tende a sofrer menos. “É claro que o cenário negativo afeta inclusive o microcrédito, porém o setor tem mais tecnologia para lidar com isso, com o agente de crédito mais próximo do tomador”, diz o especialista.

O BC qualifica o perfil do empreendedor elegível para o microcrédito como aquele formal ou informal com faturamento anual de até R$ 120 mil. As estimativas apontam que, no Brasil, há 30 milhões de empreendedores dentro desse teto.

Valor Econômico

Marcello Casal

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