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Campo Grande

Vereadores avaliam abrir CPI para apurar aumentos abusivos nas contas de energia

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25/01/2019 13h26

Vereadores de Campo Grande analisam abrir Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar os aumentos expressivos nas contas de energia elétrica, considerados abusivos e que geraram centenas de reclamações de consumidores neste mês. Em reunião na manhã desta sexta-feira (25), na Câmara Municipal, parlamentares, órgãos de defesa do consumidor, Ministério Público, Defensoria Pública cobraram providências e informações sobre os cálculos.

Ainda, foi solicitada a suspensão das cobranças excessivas nas contas de energia elétrica até que seja feita análise técnica e revisão dos valores. O debate foi proposto pelo vereador Valdir Gomes e a Comissão Representativa dos vereadores durante recesso parlamentar. Participaram da reunião, ainda, os vereadores Dharleng Campos, Dr. Livio, Pastor Jeremias Flores, Dr. Wilson Sami, Delegado Wellington, Veterinário Francisco, Betinho e Otávio Trad.

Os vereadores não concordam com o parcelamento dos aumentos abusivos nas contas de energia elétrica, única proposta aceita até agora pela Energisa. O vereador Valdir Gomes contestou que a concessionária de energia elétrica não pode agir de forma soberana, diante da negativa em promover a suspensão das cobranças até a revisão dos valores contestados. “Não vamos aceitar soberania, vamos abrir CPI”, manifestou.

O vereador Valdir Gomes disse que recebeu inúmeras reclamações da Energisa e citou o exemplo das próprias conta que teve aumento abusivo. As últimas três cobranças tiveram os seguintes valores R$ 820, no mês seguinte subiu para R$ 1.470 e, por fim, a última fatura foi de R$ 2.087. “Deve ter rato no meu relógio. Não se justifica esse aumento. Mais de mil pessoas me procuraram com problemas semelhantes. Tem gente que se pagar a conta não vai conseguir comer”, afirmou.

Logo no começo do debate, ele pontuou dois pontos principais a serem debatidos “Primeiro, não aceitamos parcelamento das contas; segundo, queremos que a Energisa suspenda essas contas até resolvermos esse impasse”, disse.

A vereadora Dharleng Campos também reiterou os encaminhamentos para abertura de CPI, diante das incoerências apresentadas pela população surpreendida com as contas elevadas. Ela recebeu também centenas de reclamações e citou o caso do morador de uma quitinete que pagou R$ 200 em dezembro, mas viu o valor da conta subir para quase R$ 600 agora em janeiro, tendo apenas geladeira e televisão em casa. “Como se comprova esse aumento no consumo se os equipamentos são os mesmos? A população não sabe o que paga, as especificações na conta não são clara”, disse. Ela cobrou ainda a suspensão das contas abusivas até a revisão.

Assim como os colegas, o vereador Betinho falou das dibersas reclamações que recebeu. “Uma pessoa, por exemplo, pagava cerca de R$ 30 e, na fatura que vence em 11 de fevereiro, foi cobrada em R$ 1,2 mil. Como justificar aumento de tamanha natureza? Com certeza tem algo errado”, disse. Ele mencionou ainda a necessidade de suspender a cobrança e melhorar o serviço.

O vereador Veterinário Francisco disse que a Energisa “está sangrando o povo de Mato Grosso do Sul. Temos que verificar o que está acontecendo ou vamos ter que voltar a usar lamparina, porque é impossível pagar essa conta”, disse. Ele lembrou ainda que o aumento da energia impactar na inflação e outros produtos devem subir, aumentando os gastos dos consumidores.

Mais transparência à Energisa foi a cobrança feita pelo vereador Delegado Wellington na reunião desta sexta-feira. Energia é essencial, assim como a água. A população tem dúvida de transparência, para ler o relógio, se tem alguma manobra ou fator para que consuma. Essa falta de transparência gera dúvida e distanciamento do consumidor com a empresa”, disse. Ele lembra que já oficiou a empresa para justificar os aumentos.

O vereador Dr. Lívio falou da necessidade de medir os níveis de tensão da rede, pois as faixas máximas e mínimas devem seguir um fluxo, com a mesma tensão do começo ao fim da rede. Assim, o trabalho de verificação não se limitaria apenas ao relógio. Ele lembrou ainda das irregularidades apontadas pela Comissão Temporária instaurada na Câmara para avaliação da Cosip, com informações já repassadas a vários órgão, incluindo Tribunal de Contas. “Pontuamos as responsabilidade de todos os entes dentro desse processo, incluindo a agência reguladora. Constatamos irregularidades cabíveis a Energisa”, disse.

O coordenador comercial Jonas Ortiz, coordenador comercial da Energisa, disse que todas as reclamações de consumidores serão analisadas caso a caso, mas descartou a possibilidade de suspender as contas relativas ao último mês. Ele alegou que todas as contas averiguadas até agora estão corretas, mas manteve o posicionamento apenas de garantir o parcelamento, conforme conversa anterior com o Procon.

Quanto aos questionamentos, ele justificou que houve aumento de consumo diante do calor registrado nos últimos dias. “Dezembro de 2018 foi o mais quente desde 2006. Tivemos 13 dias com recorde de consumo. E janeiro é o mais quente do século. Já registramos dez recordes de consumo. Essa onda de calor provoca elevação no consumo e mais as cobranças nas contas”, disse. Ele alertou ainda que a tendência é que a próxima também venha com valor elevado, diante do consumo maior.

O vereador Valdir Gomes lamentou a ausência do diretor da Energisa, Marcelo Vinhaes Monteiro, que foi convidado a participar da reunião.

Providências

Diante da negativa do representante da Energisa em atender ao pedido de suspender as cobranças até a revisão dos valores considerados abusivos, os vereadores anunciaram, ao fim da reunião, que darão início aos encaminhamentos para a proposição da CPI. Para isso, já esperam conta com representantes dos órgãos de defesa do consumidor, MPE e Defensoria, que estiveram presentes na reunião.

A defensora pública Eni Maria Sezerino Diniz disse que sempre receberam algumas questionamentos sobre cobranças, mas não na proporção como está ocorrendo neste mês. “Verifiquei as faturas que o vereador Valdir Gomes trouxe e observamos contas que passaram de 800 para 2,5 mil quilowatts. Temos que enteder por que esse aumento está ocorrendo. Se for o caso, podemos entrar com ação revisional”, afirmou.

O promotor Luis Eduardo Lemos de Almeida, da Promotoria de Justiça do Consumidor, justificou que se trata de serviço essencial que envolve questão política, pois o estado fornece serviço de forma universal e menor tarifa, questão técnica, pois há composição da tarifa, e a questão jurídica. Ainda, ele apresentou um contraponto à justificativa sobre o aumento do consumo no calor. “Na mesma medida, que usamos mais ventiladores e ar condicionado, usamos menos chuveiro elétrico e também viajamos com mais frequência nas férias. O argumento não pode ser aceito sem contestação”, disse.

Ele disse ainda que diante das reclamações, o MPE instaurou procedimento de acompanhamento da atuação da agência reguladora, no caso a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para verificar se argumentos procedem ou não. Lembrou ainda que, no Estado, a Agepan tem convênio de cooperação com a Aneel. “A população tem também instrumento de reclamação que é site da Aneel, pois trata-se de uma concessionária regulada. É um mecanismo que pode dar resultado. Ainda, vamos verificar se pode ter ocorrido alguma falha para tomarmos medidas cabíveis no âmbito Judiciário”, esclareceu.

Também esteve presente na reunião, Carlos Alberto Assis, secretário especial e chefe de gabinete do governador. “Estou aqui a pedido do governador para colocar o estado à disposição para que a gente possa resolver impasse. Existe problema, que precisa ser resolvido e rápido. Se não teve aumento de consumo, não houve aumento da tarifa e a conta para o contribuinte aumentou, qual o problema?”, questionou. Ele disse que Procon e Inmetro podem contribuir e reiterou
que se trata de concessão regulada a nível nacional, pela Aneel.

O superintendente do Procon de Mato Grosso do Sul, Marcelo Salomão, também falou sobre o aumento considerável nas reclamações e lembrou da dificuldade em identificar o aumento do consumio. “A empresa justifica aumento de consumo, mas não conseguimos identificar se usamos porque estamos comprando um produto que não vemos e as informações não estão claras ao consumidor”, disse. Portanto, já foi solicitado para que o Inmetro faça, por amostragem, perícia nos relógios.

Salomão solitou que a Energisa não faça cobrança de vistoria nos relógios, solicitando que a empresa confirme que essa justificativa de aumento no consumo está correta, pois muitos alegam que não alteraram seus hábitos e rotina, mas foram surpreendidos com as contas mais altas. No entanto, o representante da Energisa negou a possibilidade e disse que a taxa está prevista no contrato de regulação. Ainda. Salomão disse que está prevista visita a Aneel, em Brasília, para confirmar as informações e dados apresentados pela empresa.

A Presidente do Conselho de Consumidores da Área de Concessão da Energisa Mato Grosso do Sul (Concen/MS), Rosimeire Costa, disse que já articulou Grupo de Trabalho dentro do Procon Municipal, com UEMS, UFMS, engenheiro eletricista e Inmetro para obter informações técnicas. “Precisamos saber se houve consumo, como está equipamento e como está sendo feita a medição”. Ela mencionou ainda que já há ação tramitando no Supremo Tribunal Federal questionando as cobranças de tributos na conta e pedindo a desoneração da tarifa.

A reunião contou ainda com a presença do deputado estadual Felipe Orro, que se comprometeu a estender esse debate para a Assembleia Legislativa, e o deputado federal Junior Coringa, que também já participou de reunião em Brasília para tratar do tema.

Ainda, consumidores relataram as dificuldades enfrentadas e vereadores de municípios do interior, a exemplo de Chapadão do Sul, Corumbá, Rio Verde, Aparecida do Taboado e Glória de Dourados compareceram para buscar soluções para esse mesmo problema.

Milena Crestani – Assessoria de Imprensa da Câmara Municipal

Foto: Izaias Medeiros

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