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Campo Grande

Combate à exploração sexual deve mudar com era digital, diz pesquisa

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01/12/2015 11h14

Aliciadores e clientes evitam contato pessoal para protegerem identidade. Presentes novos e caros são primeiro sinal que pais devem observar.

Pontos de prostituição que eram comuns no mercado do sexo em Campo Grande estão deixando de existir. Na era dos smartphones, toda negociação é feita de forma virtual. Em reportagem exibida no MSTV 2ª Edição desta segunda-feira (30), a pesquisadora do Conselho Estadual de Enfrentamento da Violência e Defesa dos Direitos Sexuais de Crianças e Adolescentes, Estela Márcia Scândola, afirma que a forma de combater o crime também deve mudar na era digital.

“O aliciador por exemplo, agencia, transporta, aloja, sem ser visto, sem ser percebido, sem ser notado. Ele próprio conversa com criança e adolescentes e jovens de uma forma que ele também não seja visto. Então não é possível hoje fazer nenhum enfrentamento sem inteligência. Os serviços de inteligência deveriam se desdobrar em criar ações de enfrentamento a partir desta prioridade. Significa mapear, ir em busca, significa localizar onde é que estão os processos de aliciamentos”, explicou Estela.

Muitas vezes não havia nenhum contato pessoal com as meninas. Essa foi uma forma encontrada pelos aliciadores para proteger a identidade deles próprios e dos clientes.

A mesma internet que protege também é usada para a chantagem. Fabiano Otero, um agenciador de garotas de programa, conseguiu extorquir o ex-vereador Alceu Bueno em R$ 100 mil. Tudo para não divulgar na rede uma gravação em que Bueno aparece no motel com duas adolescentes.

“Meu cliente nunca fez parte de rede de prostituição infantil, de menores ou pedofilia”, afirmou o advogado Fabio Theodoro de Faria, defesa de Alceu.

Para a pesquisadora, só identificar o problema não resolve. É preciso ainda investir em ações mais efetivas de acompanhamento das vítimas.

“Na verdade, nós temos um monte de política de direitos, sem direitos. Significa que nós temos uma rede de serviços bastante consolidada, bastante grande de educação, saúde, assistência de redes de atendimento, mas na verdade elas não são efetivas quando se trata de exploração sexual porque não mudou sua forma de perceber o quão essas crianças são ricas de possibilidades de criatividades e quanto elas necessitam ser protagonistas”, destacou a pesquisadora.

Os detalhes do esquema foram mostrados no Fantástico de domingo (29), em reportagem produzida em parceria com a TV Morena. As vítimas eram meninas pobres da periferia da capital sul-mato-grossense, aliciadas para satisfazer os caprichos de homens ricos e poderosos. Segundo a investigação do Ministério Público, o esquema existe há mais de dez anos.

Mercado do sexo

O esquema é investigado pela Polícia Civil e o Ministério Público há oito meses. Dezenas de homens são suspeitos de pagar por programas sexuais com crianças e adolescentes. Um deles é o ex-vereador Alceu Bueno, que foi filmado em um motel com duas adolescentes de 15 anos. O advogado Fabio Thedoro de Faria disse que Bueno nunca fez parte de rede de prostituição infantil ou de menores ou pedofilia.

A gravação, feita pelas próprias garotas, serviu para que Alceu Bueno se tornasse alvo de uma chantagem. O cafetão Fabiano Otero exigiu dinheiro do ex-vereador. A extorsão ajudou a polícia a desmontar o esquema. Denunciado, Otero foi preso em flagrante quando ia receber R$ 15 mil de Alceu Bueno para não divulgar as imagens. Na cadeia, ele resolveu colaborar com a investigação para tentar diminuir a pena e contou detalhes dos crimes e os nomes de diversos envolvidos.

A primeira pessoa que ele entregou foi Rosedélia Soares, de 41 anos, conhecida apenas como Rose. Segundo a investigação, Rose é chefe de uma organização que alicia as crianças. Os alvos são meninas pobres da periferia de Campo Grande. O advogado de Rose, José Roberto Rodrigues da Rosa, disse que ela agenciava garotas de programa, mas garantiu que ela nunca lidou com menores de idade.

“Existe uma rede organizada, que se vale, muitas vezes, da condição social desfavorável de algumas meninas, da desestrutura familiar, para induzir, para atrair para a prostituição”, relatou o coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), Marcos Alex Oliveira.

Katy Braun do Prado ressaltou que as vítimas são meninas de origem humilde, que vivem em uma situação de vulnerabilidade social e que têm princípios distorcidos, que as levam a desejar bens de consumo que as famílias não podem oferecer.

O programa com uma adolescente em Campo Grande custava até R$ 1 mil. Só que a maior parte do dinheiro ficava para a cafetina.

Outro acusado é o ex-deputado estadual Sérgio Assis. Em um vídeo, ele aparece no carro com uma jovem que, segundo a investigação, foi agenciada por Fabiano Otero. Segundo o advogado de Assis, José Belga Assis Trad, a relação sexual por um menor de 18 anos e maior de 14 por si só não configura crime. “Para que se tenha crime, essa relação deve se dar em um contexto de agenciamento e, nesse caso, a relação de prostituição não foi agenciada.”

Um terceiro acusado é o empresário José Carlos Lopes, que responde por exploração sexual de adolescentes e também por estupro, porque teria saído várias vezes com duas irmãs, ambas menores de 14 anos. O advogado José Belga Assis Trad, que também defende Lopes, nega as acusações.

Por causa da delação premiada, Fabiano Otero está cumprindo prisão domiciliar desde outubro. Rose, que foi presa há dois meses, permanece na cadeia. Alceu Bueno responde ao processo em liberdade. O julgamento está previsto para acontecer ainda nesta semana e as penas podem passar de 15 anos de prisão.

A investigação do Gaeco não acabou. Pelo menos mais uma denúncia, contra outro cliente, deve ser oferecida à Justiça ainda neste ano. Os promotores também investigam dezenas de outros homens, suspeitos de pagar para fazer sexo com crianças em Campo Grande.

O ex-vereador Robson Martins está nesse processo também. Ele está solto, responde em liberdade e, em abril, quando a TV Morena conseguiu contato com ele, ele negava envolvimento no crime. Nesta segunda-feira, a TV Morena tentou contato com o advogado dele, mas não conseguiu.

G1 MS com informações da TV Morena

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