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‘Soropositivos com carga viral indetectável não transmitem HIV’

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02/12/2017 06h05

Com os tratamentos atuais a base de antirretrovirais, cada vez mais pessoas com HIV estão conseguindo reduzir a carga viral no sangue para níveis indetectáveis por testes laboratoriais. Em um seminário no Rio de Janeiro que marcou o Dia Mundial da Luta contra a Aids, o médico e pesquisador Esper George Kallás destacou pesquisas recentes apontando que os indivíduos nesta condição deixam de transmitir o vírus. Durante o evento, que ocorreu ontem (1º) no Museu do Amanhã, ele fez uma exposição sobre o quadro atual e as perspectivas do tratamento e da prevenção.

Professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Esper diz que, quando a carga viral se torna indetectável, a pessoa não transmitirá o HIV nas relações sexuais, mesmo dispensando o uso de camisinha. Um dos principais estudos que apontaram nesta direção foi conduzido pela universidade inglesa College London.

“Foi feito um acompanhamento em 14 países europeus com 1.166 casais, onde havia um positivo para HIV e outro negativo. Ao longo do período estudado, eles estimaram que foram feitas 58 mil relações sexuais sem preservativo e foram constatadas zero infecções”, relatou.

“Isso trouxe o conceito de tratamento como prevenção. Então, aquela ideia de tratar todos aqueles que vivem com HIV não traz apenas benefícios pessoais. Traz benefícios comunitários e epidemiológicos, na medida em que estas pessoas deixam de transmitir o vírus. Isso, a longo prazo, contribui para a redução da epidemia e também ajuda na diminuição do preconceito em relação a essas pessoas”, acrescentou.

De acordo com a página oficial da Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (Unaids), já é um consenso crescente entre cientistas que pessoas com carga viral indetectável em seu sangue não transmitem o vírus através de interações sexuais. “Esse conhecimento pode ser empoderador. A consciência de que eles não estão mais transmitindo o HIV sexualmente pode proporcionar um forte senso de que passam a ser agentes de prevenção em sua abordagem para os relacionamentos novos ou já existentes”, registra o órgão.

Ele defende que não deve haver receio na divulgação das informações científicas, mas alerta que as pessoas devem ter ciência de que os novos achados não significam que se possa relaxar. “Não podemos esconder as informações. Achar que a política do medo é o que vai resolver o problema do HIV está errado. Tem que falar a verdade. O tratamento está melhor. Mas, ao fazer chegar a informação para todo mundo, também é preciso alertar que, uma vez infectado, tem que se tomar remédio para o resto da vida, e ninguém quer isso”.

É recomendável que a pessoa com carga viral indetectável faça exames periodicamente. E embora ela não transmita o vírus, pode contrair outras doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), o que deve ser levado em conta quando se vai optar por usar preservativo ou não.

Teste como rotina

A diretriz do Sistema Único de Saúde (SUS) é garantir um tratamento universal para todo brasileiro soropositivo. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda aos países buscar a denominada meta 90-90-90. Isto é, garantir que 90% das pessoas que vivem com o vírus sejam diagnosticadas. Dessas, ao menos 90% precisam ter acesso ao tratamento. E 90% dos pacientes que estão tratando devem conseguir reduzir o vírus a níveis indetectáveis.

“Felizmente, aqui no Brasil já há alguns locais onde alcançamos o objetivo de deixar a carga viral indetectável em 90% das pessoas que estão se tratando. Mas, ainda temos problemas para trazer todos para o tratamento e para fazer o diagnóstico das pessoas que vivem com o vírus”, diz Esper.

De acordo com o pesquisador, é importante que o SUS faça o máximo de diagnósticos possíveis, trazendo as pessoas para dentro do sistema, mas, infelizmente, os médicos ainda não têm o hábito de recomendar o teste e as pessoas também não realizam exames com frequência. “Vai fazer um teste para saber como está a glicose, como está o colesterol? Aproveita e faz o de HIV junto. É muito barato.”

O médico considera que o Brasil falhou com populações vulneráveis. “Ainda não conseguimos controlar a epidemia de HIV em homens gays, em transgêneros, em profissionais do sexo, em usuários de drogas. Há prevalências nesses grupos que preocupam. É uma dívida que nós temos que pagar. E faltam políticas de combate”. Outra preocupação atual é com jovens brasileiros até 19 anos, segmento da população que vem enfrentando aumento das infecções.

Tratamento futuro

Para o futuro, Esper aposta nos estudos com os anticorpos monoclonais, substâncias com estrutura complexa que são produzidas pelo nosso organismo para combater germes. Eles já vêm sendo modificados e produzidos em laboratório em diversas pesquisas. Hipoteticamente, poderiam ser usados para inibir qualquer substância inclusive o HIV. Estudos com foco na Aids buscam uma forma de empregar estes anticorpos no tratamento e na prevenção.

“O sonho é que estes anticorpos possam substituir os antirretrovirais. Quem sabe a gente possa um dia conduzir o tratamento com duas injeções por ano e a pessoa não precisa mais tomar comprimidos diariamente? E, quem sabe, também o indivíduo que não tenha o vírus tome duas injeções ao ano e assim não tenha mais possibilidade de contrair o HIV?”, especula Esper.

Agência Brasil

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