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Como a URSS ajudou a criar o sistema de ensino a distância

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27/12/2018 10h19

A Rússia desenvolveu um elaborado sistema de educação a distância com uma tradição que remete à Revolução de Outubro. Mais de metade dos 7,4 milhões de estudantes russos estão registrados hoje em programas de ensino EAD. A história deles é caracterizada por uma enorme mudança estrutural, marcada por ambições ideológicas direcionadas à qualificação de cidadãos que possuem um único acesso aos cursos de graduação, ainda que, ao mesmo tempo, isso leve a problemas ligados à qualidade do ensino russo.

Hoje, mesmo assim, a Rússia investe na modernização do seu sistema de educação a distância, permitindo estudos flexíveis e independentes de tempo e espaço.

O mundo ocidental, particularmente os pesquisadores anglo-americanos e europeus, sabem muito pouco sobre o sistema russo. Uma razão pode ser a barreira linguística: os cientistas russos raramente publicam artigos em inglês e, assim, permanecem internacionalmente isolados.

Uma análise bibliográfica feita em 695 artigos escritos entre 2000 e 2018 nos cinco jornais de ensino EAD russos por uma escola estadunidense mostrou que nenhum deles tinha sido produzido na língua inglesa. Essa é uma característica que permaneceu da antiga União Soviética.

O isolamento internacional impede, por exemplo, que se conheça o pioneirismo do sistema de educação fora das classes físicas da URSS: durante o período soviético, a correspondência e as escolas noturnas foram incorporadas no programa educacional nacional e expandidas para todo o território.

Logo depois da Revolução de Outubro, o Partido Comunista publicou, em seu manifesto de 1919, um pedido de apoio financeiro do governo para promover a “autoeducação” e o “autodesenvolvimento” dos trabalhadores e cidadãos, seguindo as ambições ideológicas de elevar os padrões educacionais do proletariado.

Três anos depois, em 1922, um comitê do governo para o desenvolvimento da educação na URSS foi montado e recebeu a responsabilidade de organizar um sistema nacional de educação por correspondência. Na época, esse tipo de projeto ainda engatinhava nos Estados Unidos, considerado o país que deu o pontapé inicial na ideia, ainda no século 19.

Naquele ano, seja como for, várias instituições educacionais para a “autoeducação” foram construídas na URSS, incluindo as famosas Faculdades do Trabalho (Rabfaks), em que trabalhadores e adolescentes de 16 anos eram preparados para os cursos universitários.

Essas oportunidades de graduação são consideradas hoje como estágios preliminares da educação a distância soviética: por três anos, os alunos estudavam em tempo integral e, em seguida, havia mais quatro anos de estudos em meio período, na parte da noite. Durante o ano acadêmico de 1925, 40% de todos os calouros eram graduados pelas Rabfaks. No entanto, com o desenvolvimento do sistema educacional, nos anos 1930, elas foram desmanteladas.

Em 1924, muitas universidades apostavam nos serviços de transmissão para ensinar adultos e adolescentes. Os cursos eram ministrados via rádio e continham aulas que duravam de 20 a 30 horas. Depois que os estudantes ouviam as lições, podiam participar de um exame por escrito para validar o diploma. No entanto, esses padrões educacionais não alcançaram as principais instituições universitárias soviéticas e jamais foram incorporados ao sistema educacional oficial.

O desenvolvimento de educação a distância baseada em correspondências, no entanto, tornou-se parte do quadro regular das universidades já em 1920. Isso aconteceu porque o plano de desenvolvimento econômico para os próximos cinco anos, iniciado em 1926, demandava um alto número de especialistas qualificados que o sistema comum havia falhado em produzir. Assim, as oportunidades de ensino EAD foram expandidas para todo o território soviético e, no começo da década de 1930, uma rede de instituições de educação por correspondência e escolas técnicas estava estabilizada, particularmente voltada para trabalhadores da indústria pesada e de fábricas.

Enquanto o ensino a distância antes de 1929 era projetado para meros cursos de estudo próprio, em que os estudantes tinham apenas contatos irregulares com os professores, o desenvolvimento do sistema por correspondência nos anos seguintes foi caracterizado por fases presenciais e distantes, que podem ser comparadas ao formato utilizado atualmente pelas principais universidades do planeta.

“Os três tipos básicos de programas educacionais oferecidos pelo sistema soviético de graduação eram: dias regulares, estudos em tempo integral, meio período noturno e meio período por correspondência. Tentativas de igualar esses programas com institutos particulares produziram muita confusão”, contou Nickolas de Witt, membro do centro de pesquisas russas da Universidade Harvard (EUA), ao site Distance Learning.

Entre 1940 e 1959, o número de estudantes em meio período matriculados em cursos de ensino a distância cresceu 4,5 vezes, enquanto o número de alunos nos campus físicos soviéticos dobrou. Mais da metade das pessoas estudando na URSS no final da década de 1950 tinha apenas meio período de aulas. “No final da década de 1960, do total de 2,3 milhões de estudantes universitários, 1,2 milhão, ou 51,7%, estava em programas por correspondência”, finalizou Witt.

Infelizmente, a enorme expansão do ensino a distância na URSS se deu às custas de sua qualidade: em uma resolução do Conselho de Ministros do Partido Comunista de 1966, o país admitia que o sistema tinha problemas não resolvidos. Apesar dos esforços de evitar que o modelo servisse como escolas de segunda classe, por exemplo, a questão da qualidade das aulas jamais conseguiu ter uma solução. Em 1999, já como Rússia, a OCDE criticou a sustentabilidade do projeto que vigorava desde o fim da União Soviética.

Hoje, com o desenvolvimento da educação online, muitas instituições universitárias russas voltaram a investir no formato de ensino EAD – mantendo um legado de quase um século no país.

Assessoria de Comunicação

Crédito: divulgação/Assessoria

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