23.8 C
Campo Grande

Mais educação e saúde pública, menos violência: os ganhos da Costa Rica

- Publicidade -

19/02/2019 07h23

Há décadas, os defensores da ideia de acabar com as forças armadas dos países usam argumentos morais, filosóficos, políticos e econômicos, dizendo que o exército é sempre um negócio ruim. O certo é que, no caso da Costa Rica, que celebrou 70 anos da decisão de abolir seus soldados, a iniciativa foi rentável.

Essa é a conclusão de um recente estudo realizado pelo Observatório de Desenvolvimento da Universidade da Costa Rica, que assegura que a decisão de se desfazer as forças armadas significou um aumento de quase um ponto percentual no crescimento anual médio do PIB per capita entre 1950 e 2010.

Nesse período, o aumento médio do PIB per capita anual foi de 2,28% em comparação com o 1,42% que se teria alcançado em um cenário simulado sem a decisão de acabar com o exército. Produzido pelos investigadores Alejandro Abarca e Suráyabi Ramírez, o estudo “Adiós a las armas: los efectos en el desarollo de largo plazo de la abolición del ejército de Costa Rica” é o primeiro a estimar os efeitos econômicos que esse fato teve para o desenvolvimento do país centro-americano.

Na década de 1940, a Costa Rica viveu vários episódios de violência política que acabaram em uma guerra civil em 1948. Depois do conflito, o então presidente José Figueres Ferrer decidiu suprimir as forças armadas, medida que foi consagrada na constituição de 1949. Nas últimas décadas, com o crescimento das conexões, das vendas de bilhetes aéreos e da descoberta do país pelos guias turísticos, a Costa Rica se tornou um importante destino de férias.

Os especialistas responsáveis pela pesquisa usaram uma ampla base de dados para comparar os resultados obtidos pela Costa Rica entre 1920 e 2010 com o resto dos países da América Latina, não só levando em conta o PIB, mas também outros indicadores relacionados ao desenvolvimento econômico.

Eles descobriram que a Costa Rica era o quarto país com menor taxa de crescimento do PIB per capita antes da abolição do exército. No entanto, depois de sua eliminação, converteu-se no segundo de maior crescimento, atrás apenas do Brasil.

O pequeno país centro-americano também é o segundo país da região, depois do México, cujo crescimento do PIB per capita anual médio se incrementou em maior medida ao comparar os períodos prévios e posteriores à supressão do exército: uma taxa de 0,97 anual.

Além disso, também reduziu o prazo requerido para duplicar seu PIB per capita de 49 a 30 anos. Entre os países utilizados como ponto de comparação, o estudo não incluiu o Panamá – outro país latino-americano que não possui exército – devido ao fato de não existirem dados suficientes disponíveis no país antes de 1949.

Os benefícios da eliminação do exército não se limitam ao âmbito econômico, mas também afetam outros aspectos da vida costa-riquenha: segundo outro estudo, um dos efeitos da medida foi permitir a reorientação do uso dos recursos do Estado. Por exemplo: entre 1940 e 1948, o gasto em segurança pública ficava em cerca de 10% do orçamento, mas depois da guerra começou um declínio que se manteve de forma constante durante os 25 anos seguintes.

Por outro lado, se o gasto com infraestrutura estava sendo reduzido durante a década de 1940, começou a aumentar depois do conflito interno e ficou, em média, em 13,8% do gasto público até 1974. No que diz respeito aos investimentos em educação, entre 1920 e 1949, ficavam em 15% do orçamento, mas, depois do fim do exército, cresceram até chegar a 35% em 1969.

De maneira similar, o orçamento destinado à saúde começou a crescer na década de 1960. Para 1974, ele representava 29% de todo o gasto público.

Os autores também destacam que, a partir do fim da Segunda Guerra Mundial, os países da América Latina viveram numerosos episódios de violência e repressão, enquanto os avanços democráticos se estancavam ou até eram revertidos. “Ao final, somente a Costa Rica manteve a continuidade institucional democrática durante o período do pós-guerra”, apontaram em entrevista ao jornal chileno La Tercera.

De 1951 até 2010, a América Latina teve 97 tentativas de golpe de Estado, 21 episódios de violência política internacional, 134 episódios de violência política civil e 35 de violência étnica. A Costa Rica, por sua vez, ficou à margem dos acontecimentos, assim como das ditaduras. “É por isso que somos um país excepcional”, finalizaram os autores.

Assessoria de Imprensa

Crédito: divulgação/Assessoria

Leia também

- Publicidade -

Últimas Notícias

- Publicidade -
- Publicidade-